Não há nada que eu tema mais do que o espelho. Não tenho nenhum e fujo
daqueles que por azar cruzam o meu caminho.
Tenho 1m e 48cm, não aprendi a me cuidar, nem a admirar a embalagem na qual minha alma veio empacotada. Filha de uma guerreira que não pode estudar, mas que foi forjada pela dureza da vida, comecei a trabalhar aos 14 anos.
Desde o momento em que finquei meus pés no distrito industrial de Manaus, assumi a responsabilidade de arcar com a educação dos meus irmãos. Lá eu atingi a maioridade, galgando posições. Fui contratada como montadora e cheguei a liderar uma equipe de 60 pessoas. Lá eu descobri que seria mãe.
Minha mãe ensacou cimento, trabalhou na roça para nos dar o que nunca teve: educação. Era o que eu queria para minha filha. Com ela no ventre, sonhava um dia ter um ponto de venda de café da manhã na capital amazonense e um fusca para transportar os quitutes. Entretanto, era a fábrica que garantia a comida na mesa, o sustento da pequena para quem eu sempre fui mãe e pai.
Me separei do marido, toquei a rotina fatigante, com fé na vida e foco na filha.Anos depois nos reencontramos. Em meio a juras de amor e de um futuro melhor, me vi grávida novamente. Na tentativa de dar ao bebê mais atenção do que a irmã mais velha teve, pedi demissão da fábrica, carregando agora um segundo filho e uma lista de promessas que nunca viraram realidade.
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